Estava a pensar naquela noite, uma ou duas semanas depois de
termos “dado um tempo”, eu estava no mil, tu provavelmente estavas no cobre,
não sei.
Estava com amigos de curso, a Ivy, o Robert e o Gary, que
conheço desde sempre. Tu ligaste-me e, quando vi a nossa foto no baile e
“Amorzinho <3” no ecrã fiquei tão perturbada, nem sei explicar. Desliguei ou
desligaram a chamada por mim, já nem sei. Passado um minuto voltas a ligar. Aí
não aguentei, comecei a chorar. A primeira vez que chorei em público.
Desligaram a chamada por mim e fui-me sentar. Não me lembro bem se voltaste a
ligar uma terceira vez ou se eu te mandei logo mensagem a perguntar o que se
passava, ao que tu respondeste que me tinhas ligado sem querer. Isto doeu ainda
mais.
Cerca de 15 minutos depois mandas-me mensagem “onde estas?”.
Eu disse-te. Voltas a ligar-me, eu volto a desligar. “Vem cá fora”. “Estás
aí?”. “Sim”. E fui. Encontro-te completamente bêbedo, encostado a um carro.
Estava a chover. Fui ter contigo. Beijaste-me. Foi tão bom, será que estava
tudo bem novamente? Trincaste-me até. Posso não me lembrar das coisas
exatamente como aconteceram, mas lembro-me perfeitamente de algumas coisas.
Lembro-me que te perguntei se já tinhas decidido alguma coisa, ao que tu não
respondeste, limitaste-te a baixar a cabeça (que nem conseguias levantar).
Lembro-me que te disse que tinha saudades tuas, e de tu dizeres “Miriam, não
comeces” e eu dizer “É verdade”. Lembro-me de te perguntar se não tinhas
saudades minhas, se estavas melhor sem mim, ao que tu acenaste com a cabeça
“não” e “sim”, respetivamente. Lembro-me de te perguntar se querias acabar
comigo, tu acenaste “sim”. Lembro-me de chorar e de tu estares demasiado
bêbedo. Lembro-me de me teres dito que, se não tivesses vindo ter comigo eu
andaria a comer um gajo qualquer. Lembro-me que o Dany te ligou e apareceu
pouco depois. Lembro-me de ele me dizer para te deixar em paz, ao que eu gritei
“EU?! Ele está a acabar comigo! Todo bêbedo!”. Lembro-me de ele te ter dito
qualquer coisa ao ouvido e de te ter arrastado a seguir para longe de mim.
Lembro-me de nem teres olhado para trás.
E quando te contei isto tudo, lembro-me de me teres chamado
de mentirosa. Porque tu não te lembravas, não tinha acontecido. E disseste-me
que não querias ouvir, que não querias saber, que eu contar-te era errado.
Não, Karl. Errado foi o que fizeste. Não, não sou mentirosa,
porque é que eu haveria de inventar algo assim? E devias querer saber! Porque
me magoaste mais do que muito. E nem sei o que mais te diga… Foste horrível.
E dei por mim a pensar nisto tudo e a ouvir na minha cabeça
“por mais bêbedo que eu esteja, Miriam, eu sei sempre o que estou a fazer”.
E depois de me teres dito, quando te contei do que tinhas
feito, que não te lembravas de ter feito nada, que não acreditavas em mim, que
eu era “mentirosa”, e depois de me teres dito “tu sabes que eu era incapaz de
fazer isso, de te dizer isso”, e sabendo eu que fizeste e disseste, eu pergunto-me…
Sabias o que estavas a fazer?
Todos erramos, é certo, uns mais do que outros, uns com
maior “gravidade” que outros, a diferença está em conseguirmos perdoar. Eu
consegui.
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